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Passeio a Famalicão

UM ABRAÇO A CAMILO E A BERNARDINO MACHADO

Camilo Castelo Branco (1825-1890) foi um dos escritores mais marcantes e produtivos da literatura portuguesa contemporânea, como romancista, novelista, folhetinista, cronista, jornalista, etc. Para os seus leitores mais fiéis ele é mesmo considerado um Génio da escrita em Portugal, só não tendo atingido craveira internacional, dada a pouca relevância política e económica que, à época, o nosso país detinha no contexto mundial. 

A sua bem conhecida ligação a Ana Plácido, mulher casada com Pinheiro Alves, abastado negociante nortenho, custou a ambos um período de prisão na Cadeia de Relação do Porto, onde escreveu uma das suas mais conhecidas obras, Memórias do Cárcere. Depois de absolvidos do crime de adultério, em 1864, Camilo e Ana Plácido fixaram-se na casa do então seu marido Manuel Pinheiro Alves, em São Miguel de Seide, onde se consorciaram em 1888. A sua vida dividiu-se anteriormente pelas cidades do Porto e Lisboa, mas é em S. Miguel de Seide que acaba por se suicidar a 1 de Junho de 1990, não resistindo à cegueira que o atormentava.

Parte da sua agitada vida foi-nos recordada em visita à “Casa de Camilo” conduzida, com elevada mestria e não menos encanto, pelo seu conservador Reinaldo Ferreira.

Nessa encantadora viagem a todos os cantos da casa, recuámos ao tempo de Camilo ao depararmos com os móveis, os quadros da época, a sua secretária de trabalho, onde se suicidou, o relógio de pêndulo e o espelho com a prata já carcomida pelo tempo, etc., sempre conduzidos com a subtileza de um estilo coloquial e fluído que nos fazia sentir Camilo a nosso lado. Foi bom revisitar este grande vulto da literatura portuguesa, conhecer pormenores ricos da sua escrita e da sua controversa vida, observar e sentir os objecto de que se serviu, saber como vivia e como se relacionava com as pessoas.

Igualmente interessante não deixou de ser a visita ao Centro de Estudos Camilianos, logo ali ao lado, um belo e sóbrio edifício com projecto de Siza Vieira, onde Camilo pode ser estudado em toda a sua profundidade e onde Bernardo Silva Barbosa, director do Jornal Aurora do Lima, nos contou, também, alguns pormenores curiosos sobre a passagem de Camilo por Viana do Castelo, na condição de co-fundador e jornalista deste jornal.
Camilo teve visita de manhã, na sexta-feira do dia 18 deste mês. Da parte da tarde, depois de um almoço convenientemente servido, para manter a riqueza do passeio, o encontro foi com Bernardino Machado (1851 – 1944), no Palacete José Trovisqueira, em pleno centro da cidade de Famalicão, onde está instalado o Museu que homenageia este grande estadista, o lutador galante, como era denominado, que exerceu duas vezes a Presidência da República e que esteve exilado em Espanha (1927-1940), na sequência da revolta de Maio de 1926, da qual resultou a instauração da ditadura que vigorou até 1974. Para além da sua acção política, Bernardino Machado, licenciado em Filosofia e Matemática, legou-nos uma vasta obra no domínio da pedagogia.

O museu, preenchido com boa parte do seu espólio doado pela família, retrata de forma evidente o percurso rico que soube trilhar. A bela casa que acolhe o espólio deste cidadão ilustre muito se valorizou, não só pela riqueza dos materiais, mas também pela sua ordenação, no plano cronológico e na diversidade das facetas do homenageado.

A organização desta saída que o Centro Cultural do Alto Minho promoveu permitiu ainda uma visita à Fundação Cupertino de Miranda, para observar a exposição do “Abstracto”, uma mostra com mais de uma centena de obras de autores nacionais e estrangeiros.