1.* Cada manhã o alvoroço da luz Me acorda: a luz atravessa a paisagem e a casa – A dormir tinha esquecido não as coisas Mas sua meticulosa beleza Múltipla No princípio Deus disse Faça-se a luz – E com a luz da manhã o mundo principia Digo a luz e não o sol Nos dias de nevoeiro emergem formas brancas Aqui e além como se vogassem Numa deriva cismadora e serena Nos dias de sol os ciprestes enegrecem E ao longe brilha o regozijo das vidraças
* Inédito, 1987 ......................................................................................................... 2.* Oblíquo Setembro de equinócio tarde Que se alonga e depara e vê e mira Tarde que habita o estar do seu parado Sol de Sul pelo sal detido Assim o estar aqui e o haver sido Quasi a mesma que sou no tão perdido Morar aberto de um Setembro antigo Com o mar desse morar em meu ouvido Pura paixão que não conhece olvido
* Não inédito. Em “Portugal Socialista”, Janeiro 1984. ......................................................................................................... 3.* NAVEGADORES Esses que desenharam os mapas da surpresa Contornando os cabos e dando nome às ilhas E por entre brilhos espelhos e distâncias Por entre aéreas brumas irisadas Em extáticas manhãs solenes e paradas No breve instante eterno surpreenderam O arcaico sorrir do mar recém-criado
1987
* Não inédito. Em N.º 2 da “Revista Salem”, Associação de Estudantes da Faculdade de Teologia, Novembro 1987. |