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Número 12

1.*

Cada manhã o alvoroço da luz
Me acorda: a luz atravessa a paisagem e a casa
– A dormir tinha esquecido não as coisas
Mas sua meticulosa beleza
Múltipla

No princípio Deus disse
Faça-se a luz
– E com a luz da manhã o mundo principia
Digo a luz e não o sol
Nos dias de nevoeiro emergem formas brancas
Aqui e além como se vogassem
Numa deriva cismadora e serena

Nos dias de sol os ciprestes enegrecem
E ao longe brilha o regozijo das vidraças

* Inédito, 1987

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2.*

Oblíquo Setembro de equinócio tarde
Que se alonga e depara e vê e mira
Tarde que habita o estar do seu parado
Sol de Sul pelo sal detido

Assim o estar  aqui e o haver sido
Quasi a mesma que sou no tão perdido
Morar aberto de um Setembro antigo
Com o mar desse morar em meu ouvido

Pura paixão que não conhece olvido

* Não inédito. Em “Portugal Socialista”, Janeiro 1984.

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3.*

NAVEGADORES


Esses que desenharam os mapas da surpresa
Contornando os cabos e dando nome às ilhas
E por entre brilhos espelhos e distâncias
Por entre aéreas brumas irisadas
Em extáticas manhãs solenes e paradas
No breve instante eterno surpreenderam
O arcaico sorrir do mar recém-criado

1987

* Não inédito. Em N.º 2 da “Revista Salem”, Associação de Estudantes da
 Faculdade de Teologia, Novembro 1987.


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CCAM,
14/02/2012, 08:32