Apresentação da Mealibra
A azáfama que nos preenche o
dia-a-dia só raramente nos permite distinguir aquilo que é essencial do
que é acessório, preocupados que estamos com as questões a que temos de
dar resposta, já que não ironicamente cada vez mais nos pedem coisas
para a véspera. E assim nos deixamos levar pela corrente dos dias, como
peças de um puzzle cujas regras não dominamos.
Vem isto a
propósito de um acontecimento que poderia ter passado despercebido se
não existisse em Viana do Castelo uma instituição com poucos recursos, é
certo, mas com um projecto de intervenção consequente: o Centro
Cultural do Alto Minho. Foi assim que no passado dia 26 de Janeiro se
reuniu no CAFÉ-TEATRO um grupo de pessoas interessadas pelas questões
suscitadas pelos novos livros e pelo mais recente número da MEALIBRA.
Sendo
uma referência incontornável no mundo das revistas culturais publicadas
no nosso país, a qualidade intrínseca dos textos que a MEALIBRA tem
publicado não pode deixar de ser associada à autoridade dos
colaboradores que nela participam. A pergunta que se coloca é,
inevitavelmente: como é possível, numa cidade com uma débil actividade
de pesquisa, de debate de ideias e de criação existir e manter-se uma
publicação com estas duas características?
A resposta é porém
muito simples: a MEALIBRA tem um Director e um Projecto. Dir-se-ia que
há redundância na resposta já que forma e conteúdo se associam: a
direcção é definida pelo próprio projecto cuja realização se antecipa.
Neste
número agora apresentado, o Dr. Fernando Canedo consegue reunir dois
dossiês com quase cinco dezenas de páginas cada: um sobre David
Mourão-Ferreira, porque "pobre seria a vida se a vivêssemos só com os
vivos", inclui o poema inédito "Celebração da Poesia" e diversos
ensaios magníficos sobre a sua obra; outro, de semelhante extensão e
qualidade, constitui uma homenagem muito oportuna a Agustina Bessa-Luís,
celebrada com pela palavra e pela pintura.
Num primeiro momento o
leitor poderá suspeitar da relação não só entre os dois assuntos como
entre os textos provenientes de autores tão diferentes como: Mário
Cláudio, Isabel Pires de Lima, José Saramago, Maria Alzira Seixo, Carlos
Reis, Álvaro Manuel Machado, Gonçalo M. Tavares, Fernando Pinto do
Amaral, António Manuel Couto Viana, Eugénio Lsiboa, Teresa Rita Lopes,
Francisco Simões, Teresa Martins Marques, só para citar autores de
referência inquestionável. Mas essa dúvida logo se dissipa quando começa
a cruzar os textos, a encontrar complementaridades, a descobrir o poder
da palavra em diálogo também com as imagens e os desenhos que
acompanham o verbo (ver, entre outros, Júlio Resende, José Rodrigues,
Armando Alves, Arnaldo, Albuquerque Mendes).
Mas a mais recente
MEALIBRA tem, como já nos habituou, a participação de outros autores de
diversos géneros textuais numa terceira parte. Muito haveria a dizer
sobre o conteúdo desta revista mas é difícil fazê-lo aqui, por falta de
espaço mas também para não faltar ao respeito que nos merece o leitor
impedindo-o de sentir que os textos foram escritos para si. Além do
mais, o colóquio/tertúlia debruçou-se ainda sobre três, sim, três novos
livros de um colaborador assíduo - Miguel Real que assina um quinto
ensaio sobre Pensadores ligados a Viana do Castelo, desta vez sobre
Guerra Junqueiro.
A presença de Miguel Real no colóquio foi em
tudo reveladora: de cultura, de sabedoria, de histórias "suas e de
outros", dos seus livros, da sua visão de Portugal. No livro "O último
minuto na vida de S.", editado pela QuidNovi em finais de 2007, o
romancista Miguel Real transformou em