DOCASEscoa-se o tempo em cristalina areia dia a dia, por entre os nossos dedos, arrastando pra longe alguns segredos diluídos na sombra de uma teia
cada vez mais anónima e alheia à noite que começa. Tarde ou cedo, é preciso aceitar, vencer o medo, olhar a multidão que saboreia
as horas, os minutos, os segundos à beira deste rio, em esplanadas onde todos parecem estar assim
desde sempre, à procura de outros mundos neste pequeno mundo e nos seus nadas, nesta vida pequena até ao fim. ......................................................................................................... | CONSELHOÉ preciso que escrevas um poema fiel à tua voz quando essa voz vier como o silêncio mais atroz da noite onde se afoga a tua pena;
e é preciso que a tua voz não tema nenhuma assombração, dessas que a sós pairam de vez em quando sobre nós e rasgam nesta vida o vão cinema
dos gestos mutilados e ausentes, farrapos de um contágio que mal sentes a abrir no céu a porta adormecida.
E é preciso que a sombra seja lida Como se nela a própria luz falasse E dissolvesse noutra a tua face. ......................................................................................................... |