Já não é tempo de e é este o tempo porque é sempre assim. Por breve que seja e obscuro o anúncio há que dar os passos necessários porque é tempo. E assim faremos o que talvez não esperássemos e que esperávamos em inquieta expectativa. Quantas sequências tem o dia, quanto silêncio na imensidão da noite! E para que são as palavras que se perdem no seu próprio som e na sua cor sempre excessiva? Se um sopro de calma confiança as reunir talvez o tempo seja a transparência de um instante e seja como nunca, fábula, sortilégio, musa. ......................................................................................................... Louvar após o longo apagamento a tranquilidade dessa respiração harmoniosa que ilumina o ar e deixa eclodir o que se tinha recolhido no silêncio. ......................................................................................................... | Estaria se estivesse não estou porque não estou Nem um murmúrio branco da branca solidão da página Nem um murmúrio vermelho de algum grão de terra Do que é nulo e neutro o que poderá surgir? Deus que é Deus quando o nada prevalece? Uma prece ou súplica nunca poderá ser ouvida mas talvez uma prece suscite a possibilidade de um ingénuo impulso e a palavra possa surgir com uma imprevisível audácia Deus então será a penumbra vibrante por onde o poema flui em sinuosas voltas E se tiver a subtil simplicidade da água Poderá ser à transparência um peixe luminoso Que é a sua própria imagem deslizando em fugidia liberdade Quando por fim sentir que a sua sombra sorri É porque Deus passou como um peixe de sombra. ......................................................................................................... Vem meu Deus com os ramos do sono entrelaçando-se e unindo-se como uma rosácea cada vez mais densa e fluída e perfumando o corpo com o seu odor de sombra e oferecendo o universo por dentro como uma amêndoa ou um diamante Vem com a tua violência suave com a tua felina lentidão e lavra o meu corpo com o teu sopro oceânico para que eu seja uma vogal do teu silêncio e beba a tua saliva para que o impossível seja real e eu reencontre a minha nudez contígua ao universo Vem que eu quero ouvir quero ver palpar cheirar O teu corpo de sombra oceânica e de leão vegetal para que não perca o ensejo de estar vivo e entre na dimensão da tua viva eternidade. .........................................................................................................
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